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A Mudança?! A Mudança começa hoje. Bom, amanhã o mais tardar… Talvez para a semana. Daqui por 15 dias a um mês no máximo. Na realidade, agora não é boa altura; mete-se as férias… Depois vem o regresso da escola e a lufa-lufa com as crianças. E num saltinho estamos no Natal e no período das festas. Provavelmente para o ano poderemos reflectir melhor sobre o assunto.
E é assim que a coisa vai, com a ideia que a mudança está ali ao virar da esquina, mas que é meio abstracta, pelo que as pessoas ou não a conseguem avistar ou não a detectam. Eu não embarco nesta metáfora que nos tentam vender de que a mudança vem a caminho. Para mim, e para a maioria do povo, é bem notório que a mudança já está entre nós. E nós sentimos na pele e aguentamos esta infâmia, primeiro com os PEC’s e depois com a Troika.
A mudança é a subversão do que Abril tem construído ao longo de 4 décadas. A austeridade que se abateu sobre nós, sob o estalar do chicote da coligação, tem aos poucos estrangulado os nossos direitos e contribuiu sobremaneira para o definhamento de uma economia que já de si não era nada robusta.
“Mas o país está muito melhor”. Pelo menos é o que defende um Monte Obscuro e um qualquer indivíduo que ainda agora chegou e que ninguém sabe ao certo o seu papel, para além de insultar as instituições democráticas do país com uma ironia insalubre. Falo evidentemente do indivíduo que conjuga no nome uma peça de loiça com a capital do Perú, que não se cansa de espalhar aos quatro ventos o milagre económico português. São as exportações, estúpidos! Grita ele do alto da sua própria ignorância. Não consegue entender tampouco que se as exportações subiram, muito se deve à estratégia de sobrevivência dos próprios empresários, extinto que foi o consumo interno. As desigualdades aumentaram barbaramente e há cada vez menos pessoas com dinheiro. E aí, por muitos Passos de mágica que se possam fazer ninguém conseguirá tirar um Coelho da cartola, nem se vislumbram Portas de saída deste modelo económico sisudo.
As nuvens cinzentas não se dissiparam. Elas estão bem presentes nas sombrias almas dos indigentes, das mães que levam os filhos de barriga vazia para a escola, dos precários que esticam os trocos para honradamente fazerem face aos compromissos, dos desempregados que perderam a esperança, dos doentes que vêm vedado o acesso a tratamento, do terço das crianças e jovens em risco de pobreza, dos reformados que recebem uma esmola em lugar da pensão e de todos os trabalhadores em geral que vêm a sua dignidade laboral ser delapidada dia após dia… Desafio a nossa classe dirigente a olhar nos olhos dessas pessoas. Logo perceberão que estas chovem por dentro!
Se isto é a mudança, eu dispenso! Rejeito-a. Devolvo à procedência. Só estarei em consciência com um modelo progressista, com uma preocupação marcadamente social, que não deixe cair as pessoas ao mar, vítimas da tempestade austera que se abateu sobre o país. Sim, porque os países e suas economias têm pessoas lá dentro. Não apenas entidades ou instituições, mas pessoas de verdade. Com necessidade, mas também com aspirações e anseios. E quando este Governo fala em reduzir a despesa, como uma metáfora para cortar prestações sociais, reformas e salários, é essencial afirmar que no fundo falamos da redução drástica do poder de compra da população, que muitas vezes chega á fasquia do incumprimento ou da fome, bem como da mutilação dos seus sonhos e desejos.
É ao povo descrente e anónimo, ao povo que deixou de sonhar, que dedico estas linhas. A todos os que não encontram quem os represente e defenda. No Movimento Tempo de Avançar, que constituirá uma Candidatura Cidadã às próximas legislativas com base num processo de primárias abertas, no qual qualquer cidadão que se reveja nos princípios orientadores subscrevendo a Convocatória pode participar, encontrarão um porto de abrigo. A participação pode ser feita elegendo os candidatos de sua preferência para a ordenação das Listas a cada círculo eleitoral, ou propondo-se como candidato. Todas as pessoas que julgam ter algo a acrescentar ao panorama nacional têm aqui uma oportunidade para difundir as suas ideias, sem estar à espera das boas graças da distrital de um qualquer partido ou do habitual convite para compor as listas.
O trajecto que completei nos últimos tempos trouxe-me aqui, cidadão anónimo e vazio de presunção, não pela procura de qualquer espécie de protagonismo, mas pela procura de respostas. Eu não quero um palco, quero alguém que projecte a minha voz. Encontrei neste Movimento o equilíbrio perfeito entre os anseios do povo e as necessidades do país. Desejo crescimento económico, mas sustentado e sustentável, na medida em que o mesmo deve ser consistente, e não fruto de medidas avulsas e esporádicas, e ao mesmo tempo respeitar os princípios ambientais e de exploração dos recursos naturais. Pretendo um Estado interventivo e que exerça o papel de regulador da economia portuguesa e que não seja um mero espectador. Caso contrário, que sentido faz indigitar Governos? Necessito que se devolvam os direitos aos trabalhadores e a dignidade ao trabalho. Pretendo que os reformados deixem de ser esbulhados dos seus rendimentos, fruto de vidas dedicadas ao trabalho e à construção deste país. Exijo um Estado Social, garante dos valores constitucionais, que atenue as desigualdades gritantes fazendo a redistribuição da riqueza gerada, mas que tenha também um papel preventivo, arquitectando uma pré-distribuição que evite que uma criança ou um idoso passe fome, por um simples dia que seja.
As respostas a estas preocupações encontram-se neste Movimento que converge diferentes sensibilidades, mas com um objectivo comum. A constituição de uma alternativa que sirva para desbloquear o impasse folclórico da Esquerda e possa viabilizar, caso o eleitorado assim o entenda, uma solução governativa. Esta terá de ser exaustivamente discutida e debatida, ponto por ponto. Terá de ficar plasmada para conhecimento público e não deve conter uma única palavra que duvidemos conseguir cumprir.
Tempo demais estamos coligados no insucesso. Agora é o momento. É Tempo de Avançar! Os anos de Austeridade, de retrocesso civilizacional, deverão funcionar como um farol, para nos lembrar que não queremos voltar a esta época medonha.
Avancemos então… Sem medos!
Montijo, 13 de Janeiro de 2015
Miguel Dias
Promotor do Tempo de Avançar
Não é fácil gerir o dia-a-dia… A administração do quotidiano, dos sucessos e insucessos, pode ser exacerbante. À medida que calcamos caminho afiguram-se novos desafios que terão de ser enfrentados. Quando alguém conquista certos êxitos na sua vida e ganha uma posição de relativo destaque ou poder, as coisas tendem a complicar-se e não raras vezes essas pessoas descarrilam do trilho que escolheram. Existe a ideia pré-concebida de que à medida que uma pessoa “sobe na vida” deve deixar de dar importância a determinadas matérias. Questões menores, como muitas vezes são apresentadas. Eu acho o contrário!
Na verdade, é chegando a esse ponto que a nossa influência deve ser direccionada na ajuda ao próximo, tentando alterar o estado de coisas. Pelo menos no meio em que nos movimentamos. Se é frequente assistir por parte do cidadão comum a atitudes que defendem um bem maior e uma melhoria social, que será transversal à sociedade, quando esse mesmo cidadão “chega ao topo” facilmente esquece a defesa desses valores. Comummente transforma-se numa criatura egoísta e ensimesmada, onde os únicos desideratos serão a prossecução de objectivos pessoais e o benefício “dos seus” (familiares ou aliados de circunstância).
Mas esta generalização, embora tenha fundamento na vivência que experimentamos há várias décadas, não pode nem deve encobrir uma minoria que pensa de forma diferente; que vê a ascensão e o poder não como um fim em si mesmo, mas como uma forma de beneficiar toda a sociedade; que coloca o enfoque sobre a vertente social. Uma minoria que não vê o país como uma abstração numérica, no qual impera uma visão individualista e uma ditadura dos mercados. Portugal é de todos, mas este país, e suas elites governativas, não tem tratado todos de igual forma.
Assim, uma mudança de políticas onde o âmago está nas pessoas é necessária e urgente. Esta urgência não pode continuar a ser colocada em segundo plano relativamente a metas orçamentais, compromissos financeiros e exigências económicas, que nos são impostas por entidades externas isentas de qualquer pingo de solidariedade. O país tem vivido prostrado por tais imposições, sem oportunidade de se reerguer e de optar por outro modelo económico, que aposte num crescimento sustentado (e sustentável) e onde existam mais remédios para além das exportações. A palavra competitividade, repetida até à exaustão no discurso político vigente, tem de ser substituída pela palavra complementaridade. Só assim fará sentido a inserção de Portugal no espaço europeu que se fundou solidário e tem deixado de o ser.
Só através da implantação de um modelo de desenvolvimento que cumpra os critérios constitucionais e que oriente a economia nacional para a população, podemos cumprir o compromisso primordial nas democracias modernas, que no fundo não é mais do que o contracto social que liga o Cidadão ao Estado. Se os compromissos são para cumprir, este é o mais importante de todos. Porque falamos de pessoas.
Montijo, 13 de Fevereiro de 2015
Miguel Dias
Começa a tornar-se irritante o constante tremelique que a menção de eleições causa nos mercados financeiros. Então quando saem as primeiras sondagens e as mesmas são inconclusivas ou ditam vitórias de forças progressistas, é um ver se te avias. A ilação a retirar é que o sistema financeiro que actualmente impera, lida muito mal com o sistema político que nos rege – a Democracia. O escrutínio da vontade do povo é visto como um factor de instabilidade pelos agentes económicos Até houve quem defende-se na praça pública a suspensão da Democracia durante o tempo que fosse necessário para sairmos da crise...
A estabilidade em Democracia é sufragada. Não existe, nem pode existir, outra forma de a alcançar. Esta pode chegar de várias maneiras: maiorias absolutas, acordos de incidência parlamentar, coligações, entre outras. Claro que qualquer solução deve sempre reflectir a vontade do povo e do seu voto, expresso em sufrágio universal.
A pressão exercida sobre a Grécia, para que o povo vote em consonância não com os seus interesse, mas em conivência com os poderosos da União Europeia, é inqualificável. Tal episódio suceder no seio de uma organização que deveria primar pela unidade, desenvolvimento e solidariedade entre países, é hediondo. Infelizmente alguns países, embora não apoiem expressamente esta pressão, tornam-se cúmplices silenciosos por não se demarcarem de este tipo de atitude.
Ora o sistema financeiro parece conviver muito mal com esta suposta libertinagem do povo escolher quem os governa. As eleições antecipadas ou impasse nos resultados obtidos são autênticas dores de cabeça que fazem Bolsas colapsar, Juros escalar e Multinacionais abanar. Será mesmo a Democracia uma ameaça tão grande ao actual capitalismo globalizante? Ao que parece, sim. Prova disso é esta estranha dança que observamos ciclicamente, entre cadeiras governativas e corporativas...
Ainda não terminou este círculo legislativo e muitos já saltaram para prateleiras douradas. Arnaut, Moedas ou Gaspar são apenas 3 exemplos de como o poder económico e interesses instituídos recompensam muito bem os seus correligionários. Esta promiscuidade não é de agora nem é exclusivo nacional, mas é cada vez mais notória. Medidas terão de ser engendradas no sentido de não permitir estas situações. Se passa por um período de nojo (para tudo, ironicamente, meter menos asco), por uma proibição absoluta de ocupar cargos em determinado sector ou por qualquer outra via, é o que urge discutir.
A estabilidade construída nestes pressupostos, de favorecimentos e facilitismos, é errada e vai apodrecendo aos poucos as relações sociais de confiança. A estabilidade deve ser orientada no sentido de edificar uma sociedade mais justa e um estado social mais forte. Só assim poderemos alcançar a paz social gritada por muitos, mas concertada por poucos.
A credibilização dos agentes políticos e o renascer da confiança na relação público/privado passa também por aqui. Mas este caminho é menos proveitoso, mais difícil. E o status quo instalado dificilmente cederá a sua posição dominante. É mais fácil contar com os velhos conhecidos do “arco da corrupção” do que enveredar por uma alternativa baseada num modelo mais claro e límpido, que atenue as desigualdades e fomente a confiança. Aí também se pode construir a estabilidade. A estabilidade de todos terem direito a uma fatia maior do bolo.
Um modelo político mais progressista não terá de ser visto como uma ameaça para as grandes empresas, antes como uma oportunidade. Se todos tivermos maior poder de compra, todos consumiremos mais. Desta forma, novos modelos surgirão e democratizarão a economia de mercado. Os micro-empresários ou as cooperativas conquistarão a sua posição no mercado virando-se para nichos particulares. Este novo paradigma é fundamental para que o futuro seja mais justo. Para que doravante, os mercados não vivam com medo da Democracia e, simultaneamente, a acção desta última não fique refém dos poderes económicos instituídos. O “capitalismo-eucalipto”, que seca tudo em seu redor, tem de ser travado. Unir esforços em torno desse objectivo, não pode ser visto como uma questão menor...
Numa sociedade moderna que prime pela liberdade, onde a justiça e a solidariedade, no seu sentido lato, são pilares fundamentais, só a Democracia em pleno e salutar funcionamento (representativa, mas também participativa e deliberativa) pode ser geradora de estabilidade.
Montijo, 23 de janeiro de 2015
Miguel Dias
Promotor da candidatura cidadã Tempo de Avançar
“Os homens não têm de ser verdadeiros, têm de fazer sentido.”
O subtítulo está entre aspas porque não é meu… É uma frase “roubada” a André Barata, constante na sua obra Intimigrafia. Não conseguiria de forma alguma transcender-me a tal ponto, pois sou demasiado mundano e agarrado à realidade.
Embora numa primeira leitura esta máxima me parecesse desprovida de lógica, numa observação mais atenta reconheci-lhe uma coerência própria. Com efeito, a descodificação deste conceito leva-me à conclusão de que os homens (ou mulheres) deverão ou ser verdadeiros ou fazer sentido. Dificilmente os homens que forem verdadeiros não farão sentido, pois é algo inato à própria condição. Mas fazendo sentido não quer obrigatoriamente dizer que serão verdadeiros. Até na falsidade pode haver coerência…
Na sociedade actual pululam os exemplos em que não é respeitada nenhuma destas regras. A incoerência é tomada como uma espécie de placebo para todos os males. Os diferentes pesos normalmente usados para quantificar problemas análogos fazem multiplicar a quantidade de balanças, embora a unidade de medida seja invariavelmente a mesma – a violência. Venha ela na forma física ou verbal.
Se na sua forma física, a violência tem sido criticada pela generalidade da sociedade, já a forma verbal é estranhamente tolerada. Talvez no medo constante da cartada da censura ser lançada sobre a mesa. Mas a condescendência com este tipo de reacção faz-nos cúmplices do acto vil que é perpetuado.
O combate ideológico é nobre. O confronto de questões e soluções é fulcral na criação de modelos abrangentes que visem o progresso social. Mas até que ponto a opinião vazia, o discurso desprovido de conteúdo pode ser encarado como positivo num debate que se quer profícuo? Será realmente correcto apelidar de censura o apontar o dedo a estes “sabotadores” ideológicos? A sua retórica resvala invariavelmente para o populismo, a demagogia, o ataque pessoal. Esse é um péssimo serviço à Democracia e um atentado à Liberdade de Expressão.
A violência verbal é, provavelmente, aquela que mais agride. Não falo somente dos impropérios ou injúrias. Com o ataque pessoal é fácil lidar – meter para as costas e continuar o caminho. Agora com o afrontamento ao intelecto por parte do vazio, com a passagem de certificados de ignorância, com a ostentação de uma pretensa superioridade intelectual, já se torna mais difícil. É fundamental parar este discurso verborreico. Pactuar com estes actos não deve fazer parte da filosofia de vida de alguém, por mais que digam que se comprará mais guerras do que se tirará proveitos. Aguentar pacificamente estas atitudes, não é uma opção. Desmascarar a mentira e enfrentar a incoerência deverá ser uma preocupação de toda a sociedade.
Aqueles que eternizam uma discussão até ao fastio sem apresentarem ideias ou tão-somente um fio condutor, nada contribuem para o esclarecimento das inúmeras questões com que a sociedade moderna se depara. Desta forma, violam os princípios do debate honesto e enriquecedor. Estamos perante pessoas que se pautam por uma conduta que certamente não é verdadeira e muito menos faz sentido. Não respeitando qualquer das categorias enunciadas, que espaço poderão ocupar na condição humana?
Montijo, 15 de Agosto de 2014
Miguel Dias
Como nunca me ocorre nada de particularmente inteligente ou significativo para dizer nestas ocasiões, socorro-me das palavras de outrem, que embora singelas, não deixam de ser pertinentes. São elas, simplesmente: a paz, o pão, habitação, saúde, educação! Que Sérgio Godinho canta há 39 anos, tantos como os que temos de Liberdade. Elas não são mais que os direitos básicos fundamentais a que qualquer ser humano deveria ter acesso. Cabe às sociedades modernas facilitar e democratizar esse acesso. Mas o poeta diz mais. Afirma que “só há liberdade a sério quando houver, liberdade de mudar e decidir”. Este é o momento de sermos Livres, este é o momento em que decidimos mudar.
Não há que ter medo da noção e da construção de uma sociedade mais igualitária e solidária. Não falo aqui das repúblicas populares comunistas ou socialistas que no século passado falharam em larga escala. O Kimilsunismo, o Maoísmo, o Estalinismo e outras, não foram mais do que interpretações erradas ou abusivas do Marxismo e que na prática, de social e da justiça da luta de classes, poucos resultados tiveram. Outros vieram a seguir que enfiaram Marx na gaveta, numa estranha vergonha de mostrarem uma costela solidária ou socialista.
Paradoxalmente foi a social-democracia, inspirando-se em várias filosofias e movimentos ideologicamente de Esquerda, a iniciar a construção de um modelo social europeu, que se baseia numa distribuição mais equitativa dos recursos e na defesa dos mais desfavorecidos. A Direita cavalgou nesta onda, fazendo da tentativa de atenuar a diferença entre as classes sociais uma sua bandeira. Por cá, a direita que se diz apoiante deste modelo, assaltada que foi por um neoliberalismo feroz, desmantela o Estado Social como se este não passasse de um navio condenado a sucata num qualquer estaleiro naval. A nova panaceia para a resolução dos nossos problemas económicos parece ser uma mudança de paradigma, traduzida numa alteração de regime. Quer-se substituir a democracia representativa por uma espécie de democracia corporativista, onde quem determina as directrizes da economia nacional são meia dúzia de merceeiros que podem perceber muito de pagar impostos na Holanda ou no Luxemburgo, mas que não conseguem entender que não é criando um país em clima de saldos e um estado social em constante promoção que se construirá uma economia forte e com potencial de crescimento. Também os Mercados não entendem isto e o Governo nada faz para o explicar, cúmplice e crente da política activa de empobrecimento, baptizada de Ajustamento.
A Esquerda, nacional e europeia, assiste atónita a tudo isto e assim continua, numa altura em que a Direita extrema posições. A aposta agora é na destruição de tudo o que é público e do próprio Estado Social, na desregulamentação da economia e no esvaziamento dos direitos laborais. Está patente uma ofensiva sem precedentes aos sindicatos, na qual se tenta fazer passar a ideia de que estes são uma força de bloqueio ao desenvolvimento do país, ao contrário da sua verdadeira essência, a defesa dos direitos dos trabalhadores e o garante da tentativa secular de diminuir as desigualdades. A este ataque chamam Flexibilização.
Portugal fez congressos, debates, reuniões e mesas redondas. Assistiu às maiores manifestações populares de que há memória. Reuniu-se em grupos de trabalho e de estudo sobre as soluções alternativas para a crise. Sindicatos organizaram-se em greves, gerais e sectoriais, e em passeatas. Curiosamente nada disto parece ter surtido efeito. Talvez por duas ordens de razão. Primeiro a sociedade actual, extremamente mediatizada, vive mais do efémero do que do conteúdo. A manifestação que hoje é notícia para os grandes meios de comunicação social, amanhã é passado e nós contribuímos para esta situação, pois ficamos todos a aguardar a “next big thing” ao invés de exponenciarmos o movimento actual. Somos coniventes também por não pensarmos o dia seguinte e a continuação do protesto. As coisas parecem ter um início, uma realização e um fim, quando deveriam ser perpetuadas e ligadas entre si. Isto leva-me à segunda razão. As formas de luta e de protesto, os fóruns e as alternativas apresentam-se como compartimentos estanques, vedados a qualquer influência ou contacto externo. Os sindicatos não se unem às associações e os partidos não falam com os movimentos inorgânicos. As manifestações são vistas como passeios em massa, as greves como queixas de quem não quer é trabalhar. Quando o que teria todo o interesse era unir todo este movimento e transformá-lo numa enorme onda de fundo, com o necessário apoio emanado de uma sobressaltada sociedade civil. Também no protesto é essencial falar de convergência.
Parece-me assim lógico que nesta encruzilhada histórica, só através da congregação das forças, do diálogo, da união, da convergência, poderemos escolher o caminho certo. Se essa convergência será conseguida por uma papoila que teima em brotar independentemente do clima adverso e do solo infértil, é talvez muito cedo para dizer. Mas não posso, não podemos deixar de tentar! Recuso render o meu país a uma corja de malfeitores que insiste em terraplanar tudo que foi arduamente construído ao longo de 4 décadas, para depois reerguer um edifício inspirado numa aquitectura neoliberal, onde apenas cabe 1% da população, nivelando por baixo e empurrando para a pobreza os restantes 99% do povo.
Este é o momento histórico para a convergência. Este é o momento de tentar o que nunca foi conseguido neste país – uma real política de Esquerda. O tempo para uma Democracia moderna, onde a sílaba tónica esteja na vertente social, não descurando para tal um desenvolvimento sustentável, equilibrando sempre o ecológico e o económico. O tempo de lutar pela Paz Social e o Pão para todos. A altura de defender os direitos, constitucionalmente estabelecidos, à Habitação, à Saúde e à Educação. Só assim conseguiremos viver em Liberdade mesmo, mesmo, a sério...
31 de Janeiro de 2014
Miguel Dias
No passado dia 16 de Novembro de 2013 estive presente na acção levada a cabo pelo Manifesto para uma Esquerda Livre. Ouvi e meditei sobre a criação de um novo Partido à Esquerda. Até estive quase para intervir, mas por ser algo impulsivo tenho sempre receio que as minhas palavras possam ser interpretadas erradamente. Aliado a isso, o poder de síntese não é decididamente o meu forte e o tempo, o vosso e o meu, era limitado. Posto isto, e visto ser assinante do Manifesto em cujo conteúdo eu me revejo, decidi escrever umas linhas sobre o assunto, pois consigo sempre organizar melhor as minhas ideias e pensamentos desta forma. Deixo assim o meu contributo, que espero seja acolhido de forma positiva e encarado como uma crítica construtiva ao que se perfila no horizonte – a criação de um novo Partido.
Por mais de uma vez tentei elencar os prós e os contras da criação de um novo partido de Esquerda. Invariavelmente chego ao fim da listagem empatado. Ainda hoje reflicto sobre essa questão e acreditem que não iniciei esse processo apenas nesse Sábado. A pertinência do seu aparecimento e as linhas mestras que deve seguir são perguntas com as quais me confronto e debato. Ressalvo no entanto que, por princípio, sou sempre favorável à criação de Partidos, até porque os considero agentes vitais no funcionamento das democracias.
Muita coisa foi dita e muita opinião difundida na reunião do Teatro São Luiz. Foi, por exemplo, dito que é preciso acordar os cidadãos para o activismo político, dentro ou fora dos Partidos. Mais, solicitou-se que os militantes que não se revissem nos seus actuais Partidos, tentassem alterar internamente os mesmos. Isso deixa-me a questão: porquê que Rui Tavares não tentou fazer isso no Bloco de Esquerda, quando afirma sentir-se bem com pessoas do Bloco e com algumas pessoas do PS? Poderá estar relacionado com a apelidada falta de liberdade e de pluralidade que afirma faltar no espectro político nacional? Se for este o caso, sou forçado a concordar com esta posição. Os Partidos da Esquerda nacional são demasiadamente inflexíveis. Passam, a meu ver, para além da coerência, pois só organizações autistas não se apercebem das mudanças na sociedade e da realidade em que o país está inserido, quer no contexto europeu, quer no mundial. Infelizmente ainda é prática comum que vozes dissonantes no interior do Partidos sejam ostracizadas e muitas vezes expulsas dos mesmos. Da Esquerda portuguesa separo o caso singular do PS, que já deu mostras de ser bastante flexível à Direita, mas duma rigidez tremenda no seu próprio “meio ambiente”.
Entre as muitas intervenções destaco uma que afrontava o Comunismo e apelidava as utopias de perigosas. Evidentemente que sou desfavorável à mesma, até porque esta não será a melhor forma de atingir o intento de unir as Esquerdas. Relembro que não foi o Comunismo que nos conduziu ao estado actual, mas se hoje debatemos a Democracia, muito se deve a esse Partido. É certo que muitas utopias são perigosas, aliás a concretização das mesmas, embora a meu ver mais perigosa é a realidade que vivemos! Estamos numa encruzilhada histórica em termos nacionais e europeus. Interessa pois saber qual o caminho que queremos seguir. Para tal, temos de pensar o que queremos ser enquanto povo e enquanto nação. Que modelo queremos instituir e como iremos lá chegar. Em suma, se queremos manter um Estado Social, pedra angular das modernas democracias ocidentais, que seja forte o suficiente para proteger e cuidar dos mais desfavorecidos ou, em alternativa, se optamos por um Estado de serviços mínimos em que todas as funções possíveis são alienadas aos privados, tecendo estranhas teias de favorecimentos a grandes grupos económicos, que florescem à sombra das contribuições de dinheiros públicos. No fundo se pretendemos ser solidários ou se nos rendemos a uma visão darwinista onde impera a lei do mais forte.
Se tal premissa é conseguida através da criação de um novo Partido é extremamente discutível. Conquanto a declaração de princípios do LIVRE seja quase impossível de criticar por quem se identifique como sendo de Esquerda, a verdade é que o resultado da génese de um novo Partido político pode resultar, ao invés do desejo de unir as Esquerdas, numa vitória para a Direita, por efeito dos problemas inerentes ao círculos eleitorais e ao método de Hondt. A isto soma-se o facto de ser sempre mais fácil a união à Direita pois, convenhamos, a sua agenda é bem mais pragmática e simplista e seus objectivos muito mais imediatos. Julgo que poderia ser encarada a hipótese deste novo partido participar com listas próprias às eleições europeias e autárquicas e tentar negociar coligação/coligações nas eleições legislativas, evitando a possível perda de deputados parlamentares.
A Esquerda é mais heterogénea na sua composição. Isso acarreta um desafio muito maior para conseguir a sua união. Mas, numa perspectiva positiva, as divergências de opinião enriquecem também o seu conteúdo programático. Do caldeirão de ideias pode e deve surgir uma Democracia “mais representativa” dos reais anseios do povo. Dessa forma chegar-se-á ao maior número possível de cidadãos. Para tal, não basta pegar em meia dúzia de dissidentes do Bloco de Esquerda e do PS, arremessar um punhado de escorraçados do PCP, juntar cimento e mexer tudo. Não é isso que vai dar coesão a um Partido que se apresenta como uma lufada de ar fresco no panorama político.
Liberdade, Igualdade e Fraternidade, são os princípios basilares que qualquer Democracia deverá seguir. Se juntarmos a isso a Justiça Social temos a receita perfeita para uma sociedade democrática contemporânea. Numa altura em que o populismo encontra terreno fértil para a sua cruzada demagógica, como em todas as ocasiões de crise e desesperança, um novo Partido deverá vincar a sua diferença relativamente aos restantes. Deve também afirmar-se como acérrimo defensor destes princípios, assegurando que a flexibilidade necessária para criar consensos e unir a Esquerda não pode por em causa os mesmos.
Por último, apraz-me dizer que um novo Partido deve tentar atrair a enorme maioria de abstencionistas, que não se revê em qualquer grupo político. Para essas pessoas o que realmente importa é a constituição de uma entidade que faça eco das suas angústias e que ouça os seus problemas. Precisam de vislumbrar um destino e uma razão para lutar. Precisam de se identificar com um Partido que, até pelo nome que ostenta, deverá ser o mais aberto possível. Porque o preconceito não encontra quartel na Esquerda! Não podemos esquecer que há gente válida em todos os quadrantes políticos. Há também muita gente decepcionada à Direita, que se afastou da política. Há uma enorme massa que não encontra um significado para todos os sacrifícios que têm sofrido. Há muitos milhares que não sabem sequer se são de Esquerda ou de Direita. Portanto acho plausível que a designação Esquerda possa ser retirada da sigla partidária. Por mim não me choca, até porque não necessito de ser constantemente relembrando daquilo que sou.
Apesar de todas estas ponderações decidi preencher a pré-inscrição de militante, obviamente pendente dos estatutos do novo Partido ainda por anunciar. Isto porque, independentemente da vontade de dar o meu contributo, nunca tinha encontrado um Partido onde revisse a maioria dos meus valores e linhas orientadoras de vida, como sejam o princípio da solidariedade e o modelo de desenvolvimento sustentável, que deverá sempre equilibrar a visão económica com a urgência ecológica. A Europa e o seu futuro é também um ponto urgente na agenda política. O caminho que trilha conduz à decadência e à extinção do sonho inicial. Não passa de um conglomerado mal-amanhado de nações, onde a única política comum é a ditadura financeira. E, claro está, isso tem repercussões inevitáveis em Portugal, economia marginal no contexto europeu. A sua participação na União é encarada como um favor, ao inverso de ser considerado um membro activo e relevante na sua composição.
Assim, interessa frisar que só a aposta num modelo de real desenvolvimento do país, onde o principal objectivo seja a redução das assimetrias vigentes, sejam elas geográficas, sociais, ambientais, económicas ou outras, pode conduzir a uma Democracia forte e activa. Para qualquer cidadão ter um pensamento LIVRE é essencial estarmos todos ao mesmo nível, tendo igual acesso aos direitos básicos, como a educação, saúde, trabalho e justiça. Só assim se pode operar a mudança...
Miguel Dias
21 Novembro de 2013
O nosso novo blogue foi lançado hoje. Fique atento ao blogue para estar a par das novidades. Pode ler os novos posts via Feed RSS.