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21-12-2015 16:06

Não me sentia preparado para tal. Ainda não me sinto. Precisava mais tempo, mais aprendizagem. Mas por vezes as coisas são assim. O momento impõe-se à nossa agenda e limitações. E o compromisso que assumimos, a palavra que damos, quando entramos em projectos audaciosos implica que às vezes o nosso tempo tenha de ser abreviado.

Foi assim que vi o meu prazo encurtado e me deparei perante a “obrigação” de ser candidato à direcção de um partido político. Com efeito, perante a demissão do Grupo de Contacto do LIVRE, o calendário andou para a frente alguns meses, antecipando o Congresso Electivo que deveria ter lugar no primeiro trimestre de 2016. Quanto a esta demissão falei na devida altura com inúmeros membros do órgão e transmiti-lhes o que pensava. Acima de tudo interessa referir que respeito a decisão tomada, apesar de nos ter colocado numa situação de stress político, quando de repente nos vimos na eminência de eleger novos órgãos até ao final do ano. Mais uma vez demonstrámos ser capazes de realizar impossíveis em períodos de tempo impraticáveis, o que diz muito da nossa natureza.

Falo em “obrigação” pois embora entre os membros e apoiantes, e muitos companheiros da caminhada Tempo de Avançar e independentes, se percebesse que a intenção era de continuar, a realidade é que se demonstrou difícil chegar a um grupo de pessoas com disponibilidade e empenho suficientes para formar uma lista candidata ao Grupo de Contacto. Desta dificuldade surge a necessidade inadiável de formar um grupo representativo da diversidade do LIVRE e que construisse uma moção em contra-relógio, sobre a qual pudéssemos edificar o futuro do LIVRE. E não vale a pena camuflar esta situação, até porque só enaltece o esforço que se colocou nesta concretização.

Confesso que ainda ontem durante o dia me debatia com dúvidas se seria mesmo este o passo correcto. Por isso não quis falar. Quis observar e sentir o pulsar do congresso. À entrada observava as faces dos camaradas que chegavam. As expressões eram múltiplas por certo. Mas todas elas demonstravam convicção. Aquelas cerca de cem pessoas, que ontem se reuniram no Conservatório de Música de Lisboa, tinham a certeza que num frio domingo de Dezembro tão perto do Natal só poderiam estar ali. A debater as razões, a decidir o presente, a desenhar a esperança.

Se alguém tivesse dúvidas que o LIVRE é um projecto político que terá, mais tarde ou mais cedo, uma expressão prática dos seus princípios, ontem foram dissipadas. A qualidade das intervenções demonstrou isso mesmo. A assertividade na crítica e nos caminhos apontados. E a afirmação de que é possível fazer mais e melhor. Que a nossa sociedade merece outro tratamento e que a cidadania é capaz de muito mais do que aquilo que lhe é permitido. O espaço do LIVRE é o espaço progressista, onde se esboça um novo modelo de desenvolvimento, sustentável e sustentado, e onde se estimula a iniciativa cidadã, fomentando a sua participação efectiva. Somos um partido do século XXI e como tal temos plena noção que, embora os partidos façam falta à democracia, a mesma não se esgota nestes. Uma democracia moderna, que deseje uma sociedade mais justa e lute por atenuar as desigualdades, terá de entrecruzar na política múltiplas dimensões. Dos partidos às associações; dos sindicatos ao ensino superior; das colectividades aos movimentos cívicos.  

Para que um partido esteja à altura deste desafio da nova política tem de se destacar do patamar da mediocridade. A possibilidade do LIVRE elevar a fasquia resulta da massa crítica que possui, da qualidade que circula pelos corredores do partido. Todos temos noção que existe muita vontade entre os membros e apoiantes, mas o conhecimento que transportam é fulcral para que a vontade se traduza numa melhoria efectiva e numa alternativa real ao modo como estamos organizados e como interagimos enquanto sociedade. O LIVRE é um partido ambicioso nas metas que traça, fruto da exigência que tem para consigo mesmo. As questões são discutidas intensamente por quem percebe do assunto e para os problemas surgem sempre soluções exequíveis e realistas.

É com esse espírito que parto para o mandato de 2 anos que enfrentamos. Temos de comunicar melhor e alargar as bases. A organização precisa de funcionar e, nos casos que se justifique, ser aperfeiçoada. Durante a vigência do mandato enfrentaremos duas provas de fogo: as eleições regionais nos Açores e as eleições autárquicas. Mas essas merecem uma reflexão mais cuidada, que não deve ser abreviada no presente texto.

As dúvidas que me assolavam, e que referi no início, ontem dissiparam-se. As escuras nuvens que se avizinhavam no horizonte deram lugar ao Sol. Não esplendoroso e radiante; antes tímido e que serve de ligeiro conforto ao Inverno que passamos. Mas é um começo, um raio de esperança. E a certeza que dali nascerá algo muito maior que a soma das nossas vontades. Alicerçado nos nossos pilares e na qualidade dos documentos que produzimos até agora. Colocando o nosso pensar e conhecimento ao serviço do bem comum. Porque nos recusamos a contentar com um mal menor.

Espero sinceramente estar à altura do desafio. E que das minhas fraquezas e impreparação faça forças para travar as lutas que se avizinham. Só poderá ser assim, não conheço outra forma. Não conhecemos outra forma. Se falharmos, não será por inacção. Ousámos ser LIVRE e isso nunca ninguém nos poderá retirar. Agora, não me resta dizer muito mais... Arregacemos as mangas e façamos política.

Montijo, 21 de Dezembro de 2015 

26-08-2015 09:00

Existem em Portugal mais de 20 partidos políticos legalizados. Surpreendido(a)? É natural, pois na maior parte das vezes ouvimos falar de 3. Vá lá, no máximo 5 ou 6. Ocasionalmente em períodos eleitorais, lá aparecem algumas notícias secundárias dos chamados “pequenos partidos”. Assim é feita a divulgação da informação política, ajudando (mesmo que seja involuntariamente) a perpetuação dos mesmos e facilitando a malha tecida pelos interesses instituídos. Chamam-lhe critérios editoriais. Pois sim... Eu chamar-lhe-ia “minimalismo editorial fortemente influenciado por que detém os grupos de comunicação em Portugal”, mas se calhar seria um nome por demais extenso e injustamente generalista.

A 4 de Outubro de 2015, véspera do 105.º aniversário da implantação da República, a maioria dos partidos políticos, sozinhos ou coligados, irão a votos. Ainda não fiz a contabilidade do número de linhas que terão os boletins, até porque já decidi o meu voto. Mas consta que será batido um recorde. Isto traz à baila duas observações: por um lado, vai satisfazer a mania tão portuguesa de andar a brincar ao Guiness; por outro, abre o leque de escolha para todos os cidadãos. O indeciso e o abstencionista têm aqui uma hipótese real de esmiuçar o panorama partidário no sentido de perceber se existe algum movimento que se aproxime dos seus pontos de vista.

A maioria das pessoas que ousarem fazer o exercício de conhecer melhor os partidos, seus princípios e conteúdos programáticos chegarão à conclusão que se revêem no partido X ou Y. Assim, no dia das eleições legislativas, poderão escolher, em consciência, aqueles que julgam melhor defenderão os seus interesses e o interesse nacional. Este último ponto é fulcral. É importante frisar que o voto não é, nem deve ser, um, acto egoísta. É evidente que do somatório das escolhas individuais surgirá a vontade colectiva. Mas é necessário ponderar muito bem qual o custo da nossa opção, sob pena de elegermos quem deixa para trás os mais fracos e indefesos, como se tornou normal nesta Europa “moderno-liberal”. A evolução social deve ser contrária à lei do mais forte. Isto terá de ter peso na altura de depositar o voto na urna.

O sufrágio universal é a base do sistema democrático moderno. E sim, foi uma conquista árdua. Sem a escolha popular não pode existir verdadeira democracia. É evidente que esta não se extingue no acto do voto. Cada vez mais interessa que a sociedade seja curiosa, participativa e exigente. Usar estas eleições para escolher forças políticas que se abram à cidadania é por isso fundamental. Cabe à sociedade vigiar, analisar e responsabilizar os(as) candidatos(as) que forem eleitos pelo partido em que votarem e, principalmente, pelo seu círculo eleitoral. Na realidade o verdadeiro trabalho político começa após os resultados eleitorais apurados e não na altura da campanha ou pré-campanha. Qualquer candidato(a) a deputado(a) à Assembleia da República sério(a) sabe disso.

Está nas nossas mãos ditar a composição do próximo parlamento nacional. Os próximos 4 anos serão da maior importância no futuro do país. Eles podem significar a viragem necessária de rumo e a aposta numa real alternativa ou o perpetuar da austeridade que vivemos e desesperamos. Por mim faço votos que se forme um hemiciclo plural, repleto de novas forças, de espírito eminentemente progressista e, acima de tudo, que seja eleito por uma larga maioria dos votantes. Não é fácil escolher, bem o sei. Mas cruzar os braços à espera que tudo se resolva milagrosamente não me parece ser solução. O tempo é de decidir! O voto será uma das formas de resolver Portugal. E o meu voto, se não se importam, decido eu. Que façam todos(as) o mesmo.

Montijo, 25 de Agosto de 2015

17-08-2015 21:27

Ele queria muito continuar a sê-lo... Sinceramente que sim. Gostava quando lhe chamavam de trabalhador. Era uma palavra bonita, completa. Enchia a boca do orador e o ouvido do receptor. A própria sonoridade parecia albergar o esforço e a dedicação inerente ao acto de trabalhar. Sim, ele gostava de ser trabalhador e ser reconhecido como tal.

Mas há uns anos tudo mudou. A empresa onde trabalhava fechou. O atraso cada vez maior na chegada do fim do mês deixava antever este desfecho. Dizem que foi a conjuntura económica e a crise internacional, mas disso ele nada sabia. Era agora um desempregado. Uma palavra rude e feia, que parecia devolver ao esquecimento

O tempo foi passando e a esperança esmorecendo. Multiplicava-se em entrevista de emprego, mas sempre sem resultados. O subsídio de desemprego foi diminuindo até ao momento que deixou de existir... Nessa altura descobriu que era um “desempregado Estrutural”, mas disso ele nada sabia.

Continuou a ir ao centro de emprego e a correr os classificados, numa clara demonstração de resistência que só se conquista com anos de experiência. Acabou por ter de aceitar um trabalho qualquer, a fazer nem sabe bem o quê, para um patrão que nunca conheceu e através de um contracto de trabalho que ele nunca entendeu e que nunca ninguém lhe soube explicar. Ali ninguém percebia muito bem para quem trabalhava ou por quem tinha sido contratado. Era um sinal dos tempos, diziam-lhe; tinha ficado muito tempo fora do “mercado laboral”, por isso não entendia estes novos vínculos.

Já não era trabalhador, antes colaborador. Sentia-se defraudado por esta designação, mas que poderia fazer... Ao mesmo tempo que lhe pagavam uma miséria, este ainda se devia mostrar agradecido por esta “oportunidade”. Levava para casa menos que o salário mínimo nacional e não lhe chegava para as despesas. Disso já ele sabia muito bem. Era licenciado em matemática do mínimo para fazer render o máximo.

Agora pensem na vossa vivência profissional e das pessoas que conhecem. Vêem como podia ser uma história real...?

 

Montijo, 17 de Agosto de 2015

07-08-2015 15:37

Na esquina do país jazia esquecida. Seu nome há muito que não o recordava. Já não contava tampouco, pois já nem número era... Fora excluída das estatísticas. Escorregara da folha de excel, desalojada da sua célula. Já nem estatística podia ser. Expurgada a pessoa os credores rejubilam. Os indicadores agradecem.
O cão de nome Agiota passa pela esquina farejando tudo e todos. Com a curiosidade característica de quem não perde uma oportunidade. Passa ao largo da pessoa sem se aperceber da sua presença. A pessoa pensa que aquele cão conta mais que ela. Ao menos tem nome...
A esquina do país é cada vez maior e em breve albergará muitos milhões de pessoas olvidadas. A austeridade tem destas coisas...

28-06-2015 22:27

Unidos por uma alternativa real

É certo e sabido que tem sido difícil. Temos múltiplas linguagens e diferentes formas de trabalhar. Uns entram com a ingenuidade de quem nunca se viu nestas andanças, trazendo consigo o sonho de que podem mudar as coisas. Outros carregam pesadas bagagens de anos de partidarismo, que se reflecte em estarem permanentemente de pé atrás, embora alimentem o mesmo sonho e possuam a experiência que falta à maioria. Outros ainda chegam de um percurso de activismo e associativismo extremamente trabalhoso, mas com enorme retorno emocional quando alcançado um qualquer objectivo. Independentemente do caminho percorrido, todos convergem numa única realidade – o LIVRE / TEMPO DE AVANÇAR. E cabe-nos a pesada tarefa de atar as pontas soltas e demonstrar que sim, é possível fazer diferente! Sim, é possível uma alternativa real!

Sabemos o que alcançámos até ao momento. Paradoxalmente é ao mesmo tempo muito e nada... Internamente os consensos alcançados, embora muitas vezes árduos, são indiscutíveis. Já fizemos tanto em meia dúzia de meses. Temos um programa em fase de acabamento, desmultiplicámo-nos em discussões temáticas, fizemos apresentações públicas de norte a sul, alinhámos uma excelente Agenda Inadiável e temos listas de candidaturas a deputadas e deputados em todos os círculos eleitorais, organizadas em sede de primárias abertas. É obra deixem que vos diga. Faltou talvez um debate prévio mais profundo e uma maior inclusão, mas o tempo é um cruel ditador e não se coaduna com a nossa vontade. No entanto, tal como dizia, isto é pouco ou nada para o exterior. E é nisso que nos devemos focar doravante.

É chegado o momento de abrir. A pouco mais de 3 meses das legislativas é fulcral que a mensagem passe e que a sociedade saiba quem somos, como nos organizamos e ao que vimos. Em suma, temos de correr o risco de ser entendidos! Isto porque a partir do momento em que consigamos descodificar a mensagem e chegar ao povo, a nossa base eleitoral aumentará exponencialmente. Isso trará o eterno dilema de como crescer sem perder identidade. Como nos manter fiéis a nós mesmos? Como continuar a dizer e defender apenas aquilo em que acreditamos? Este será por ventura o desafio mais difícil até às legislativas. A cidadania não pode ser apenas um conceito vago que por acaso está patente no nome do movimento. É necessário deixar claro que a candidatura cidadã LIVRE / TEMPO DE AVANÇAR é um movimento horizontal onde todos podem participar e não um partido tradicional onde verticalmente a direcção ou órgão central impõe as regras que as bases seguem acefalamente.

O LIVRE incrustou no seu ADN muitas das ferramentas necessárias que podem fazer deste, um movimento aberto. Cabe-nos esclarecer o porquê de, apesar dos riscos inerentes, isto poder ser extremamente gratificante e enriquecedor para a própria candidatura cidadã. No fundo é explicar como a maioria de nós, que não nos conhecíamos, nos vimos perante a inevitabilidade de fazer política de uma forma aberta, participada e deliberativa, e que não trocávamos esse modo por qualquer outro. Tentar incutir a ideia de que é necessário fazê-lo de forma honesta e transparente. Na base da confiança entre quem integra o movimento e do diálogo para com os de fora. Provavelmente necessitaremos de ensinar muitos camaradas como fazer política de uma forma mais ingénua e pura. Explicar que a simplicidade e a união à volta do essencial pode ser muito mais proveitosa e levar-nos ainda mais longe. Implantar uma espécie de “back to basics” político. Resgatar a ingenuidade, a utopia, o sonho. E tatuar essas premissas na nossa pele política.

De futuro será fundamental ouvir muito, falar o essencial, reflectir bastante e confiar ao máximo! Não nos podemos dar ao luxo de falhar. Já desbravámos demasiado terreno na democracia participativa para desistir desta luta.

Precisamos de parecer uma equipa, mas acima de tudo ser uma equipa. Os cabeça-de-lista de todos os círculos (em paridade) são a partir de agora os meus candidatos, os nossos candidatos. Independentemente da sua origem ou filiação. Empenhar-me-ei ao máximo para que elejamos o maior número possível de deputadas e deputados. E terei enorme orgulho em dizer que aquele Grupo parlamentar, que trabalha incansavelmente e apresenta todas aquelas propostas fantásticas na Assembleia da República, foi eleito pela candidatura cidadã LIVRE / TEMPO DE AVANÇAR, no quadro político do partido LIVRE.

Nesse momento vamos poder comprovar que, como todos poderão constatar, é possível fazer diferente! É possível fazer melhor! E, pessoalmente, permitir-me-ão a vaidade de afirmar que também eu, no modesto papel que me coube, fiz parte do início da implantação de uma alternativa real para o nosso país...

Obrigado

Notas de rodapé:

Foi através do Rui Tavares que embarquei nesta viagem, mas são todas e todos vocês que não me permitem que desista, apesar de às vezes ter muita vontade disso. Obrigado por isso.

Queria pedir uma ovação especial a todas e todos que tiveram a ousadia de se candidatarem às primárias, arriscando muito mais do que aquilo que provavelmente ganharão.

Viva o LIVRE; Viva a candidatura cidadã LIVRE / TEMPO DE AVANÇAR.

 

18-06-2015 23:41

Camaradas,

Não sei se conhecem o Casimiro. Aquele personagem do imaginário de Sérgio Godinho. Que é tudo menos burro, que sabe que ser honesto não é só ser bem-falante e que tem muito cuidado com as imitações. Uma pessoa autêntica. Alguém que personifica as qualidades deste povo honesto e trabalhador. Assim é Portugal. Não preguiçoso e vigarista como o tentam pintar pela Europa fora e em grande medida dentro das nossas fronteiras.

Essa doentia perseguição, levada a cabo durante os últimos 4 anos, parece agora levar uma reviravolta. Num golpe de asa tão comum entre os políticos do nosso burgo, a PàF, que só faltou distribuir estalada pela população, acarinha-nos de forma hipócrita e promete-nos a terra e o céu, continuando curiosamente a pretender aplicar a mesma austeridade que nos levou a todos numa viagem ao inferno. Esperemos que a estação terminal seja já neste Outono. Nunca é demais dizer que a austeridade mata. E eu, politicamente, afirmo-me peremptoriamente contra a morte.

É urgente trazer pessoas à política que digam aquilo em que acreditam, que se mantenham firmes nas suas propostas, que pugnem por cumprir o programa pelo qual foram eleitas. Enfim, que transmitam a dose de honestidade que tem faltado à Assembleia da República (salvo honrosas excepções).

É igualmente urgente lutar pela convergência à Esquerda. Perceber que só assim conseguiremos uma união nacional contra a austeridade, com peso suficiente para travar o combate que se avizinha dificílimo no quadro da União Europeia. A renegociação da dívida com os credores, não será nenhum passeio no parque. Atente-se o exemplo da Grécia.

O LIVRE/TEMPO DE AVANÇAR é um movimento que se abriu à cidadania. Que cortou com a tradicional exclusividade da escolha das listas dos círculos eleitorais pelos órgãos centrais partidários e que fez com que inúmeros cidadãos anónimos, entre os quais me incluo, possam apresentar a sua candidatura a candidato a deputado. Esperemos pois que da sociedade emerja a qualidade essencial à escolha, mas também a transparência, seriedade e integridade tão necessárias à política nacional.

Sejamos então um partido de Casimiros e Casimiras. Um movimento de pessoas autênticas. Aqui, não se aceitam imitações!

Montijo, 18 de Junho de 2015

Miguel Dias


 

Podem consultar a minha apresentação de candidatura, site ou blogue, respectivamente:

https://tempodeavancar.net/?page_id=7790

https://migueldias7.webnode.pt/

https://novo-capitulo.blogspot.pt/

13-06-2015 23:35

 

Certamente que existem muitos argumentos pró e contra as Primárias Abertas. Sou sensível e compreendo os motivos que alimentam ambos os lados da barricada. No entanto, não devemos fechar os olhos à actual crise politico-partidária e ao afastamento da população do processo de decisão democrática. Dizemos que vivemos numa Democracia representativa, mas na realidade esta representa cada vez menos pessoas...

Claro que as Primárias Abertas não serão o elixir da eterna juventude da Democracia. Mas é um passo. E um passo fracturante relativamente ao que temos na lógica partidária vigente. Até ao momento todos os partidos políticos funcionam como mini-ditaduras dentro da Democracia. Com a arrogância centralista de quem tudo sabe, ditam as suas listas de “assentos” na Assembleia da República por cada círculo eleitoral, seus nomes e ordenação. Evidente que existem processos de discussão interna a nível regional sobre determinada personalidade e seu lugar na lista, mas o eleitorado não é tido nem achado neste processo.

O que as Primárias Abertas fazem é quebrar a barreira dos ditames partidários. É possibilitar que todos e todas que se revejam nos princípios de determinado espectro partidário e julguem poder contribuir para a discussão política, possam submeter a sua candidatura a candidato/a a deputado/a. Ao mesmo tempo, o eleitorado que se inscreva para tal pode escolher a candidatura ou as candidaturas que julgue mais competentes.

É isto, somente isto, que a candidatura LIVRE / TEMPO DE AVANÇAR promove com o seu processo de Primárias Abertas. Pela primeira vez nas legislativas não serão os interesses, carreirismo ou cargo ocupado que ditarão a colocação e ordenação nas listas de determinada personalidade. Todas e todos partirão em igualdade de circunstâncias, havendo uma legitimação democrática na posição que ocuparão na lista de cada círculo eleitoral. E todos poderemos dizer que estivemos presentes na primeira festa das Primárias Abertas, um dos meios para democratizar a democracia interna dos partidos políticos abrindo-os à população.

Em início de festa agrada constatar que as coisas começaram bem. Estão registadas mais de 400 candidaturas, estando já salvaguardado o princípio da paridade de género que se julgou essencial para tornar a discussão política o mais abrangente possível. Estou confiante que este processo trará novos actores e actrizes ao panorama cinzentão da política nacional. Pessoas válidas e com conhecimento que esperavam apenas uma oportunidade para mostrarem o seu valor. Vamos agora entrar numa fase em que as candidaturas se darão a conhecer através das iniciativas que se realizarão nos diversos círculos eleitorais. Possivelmente, se tudo continuar a correr bem e se tivermos, no mínimo, a visibilidade nos meios de comunicação social exigível, deixaremos de ser o segredo mais bem guardado da democracia nacional. E vamos poder afirmar bem alto que: Sim! É possível fazer diferente! Aí vamos correr o risco de passar a ser entendidos. Mas a isso me dedicarei numa próxima crónica.

Montijo, 29 de Maio de 2015

Miguel Dias

14-06-2015 00:12

Existe uma certa promiscuidade saudável na candidatura cidadã LIVRE / TEMPO DE AVANÇAR. As pessoas mais mediáticas, que dão a cara pelo movimento, sentam-se à mesma mesa com os anónimos que abraçaram esta ideia. Todos têm voz e respeitam-se mutuamente. Não entram em linha de conta rankings de posição social, etários, de origem ou percurso político. Simplesmente se esgrimam ideias e se lançam pontes para entendimentos. Tenta-se chegar a um programa político representativo do que o Movimento defende e dos anseios da população.

Neste aspecto, todas e todos estão em pé de igualdade. A participação da cidadania é promovida e desejada. Só assim poder-se-á chegar àqueles que têm vivido sobre o constante terrorismo governativo dos últimos anos. Aqueles que até ouviram falar de um guião de reforma do Estado, mas não faziam ideia de que eram os personagens principais nesta tragédia, até porque nem compareceram ao casting... A sociedade está sitiada, pelos juros da dívida, pela precariedade, pela pobreza, pelo desmembramento do estado social. Não podemos continuar a sentir esta impotência perante o retrocesso civilizacional que temos assistido. A serenidade do povo não pode ser chamada à baila quando está em causa a sua própria sobrevivência. Mais que o direito de resistir temos o dever de cidadania de proteger o que 40 anos de democracia têm vindo a construir.

A perspectiva de que podemos ter uma sociedade mais justa e equilibrada, honrando compromissos externos e internos, não deve ser vista como uma utopia mas antes como uma necessidade. Não se pode solicitar todos os sacrifícios e mais alguns a um povo tão fustigado pela austeridade, ao mesmo tempo que não se exige nada de quem em tempos de crise multiplica lucros, seja através de posições monopolistas que detêm, seja através do maravilhoso mundo da alta finança, onde o afundar e resgatar de pequenas economias nacionais se transformou num negócio altamente rentável.

Só através de um esforço conjunto de todos e todas e na aposta numa candidatura que se apresenta como diferente, tanto na sua organização como na forma de construir o programa, se pode almejar o tal objectivo de travar a austeridade e incentivar o progresso. Para que as pessoas que continuam teimosamente de pé continuem a viver dessa forma e possam ajudar as que entretanto caíram. Com a firme de convicção que não há altas esferas, nem pode haver qualquer tipo de discriminação; apenas igualdade. Pois por este burgo, também temos uma Lista VIP e nela cabem dez milhões de pessoas.
 
Montijo, 24 de Abril de 2015
Miguel Dias

 

14-06-2015 00:14

 

 
Ponderei bastante antes de escrever estas linhas. Não é um assunto fácil de abordar, pois está envolto em alguma polémica. Mas como já se respira Abril decidi avançar, uma vez que este caso é atentatório das liberdades e direitos conquistados. Não escrevo como homem; nem como mulher. Escrevo como ser humano e como cidadão. Isso é importante frisar.
Quando alguém demonstra grande empenhamento no seu trabalho é vulgar usar a expressão “vestir a camisola”. Ora no caso das profissionais de saúde do Hospital de Santo António e do Hospital de São João o caso é literalmente o contrário. Não falo directamente da vertente laboral, antes das sessões de saúde ocupacional, onde as mães de crianças com mais de um ano de idade que tenham ainda direito a licença de amamentação são incitadas a fazer prova desse mesmo direito, espremendo o leite das mamas frente aos médicos. A notícia do Público do passado dia 19 de Abril de 2015 não deixa margem para dúvidas. Um trabalho jornalístico fundamentado, com fontes e afirmações de ambos os lados da barricada. Infelizmente isto é real e passa-se no Portugal do século XXI.
É difícil definir a quantos níveis isto me repugna... Evidentemente que não podemos passar ao lado do grave problema de falta de profissionais nas unidades hospitalares e centros de saúde. Não fosse esse o pano de fundo e julgo que dificilmente teríamos administrações hospitalares a tomar medidas como que saídas do tempo da inquisição. No entanto, tal não pode ser justificativo para estes episódios. Esta actuação é um atentado às liberdades fundamentais e uma humilhação brutal da condição feminina. É ultrajante que se exponha assim um ser humano, somente para se conseguir perceber se a mãe tem ou não leite. Até porque o simples facto de se perceber que a progenitora tem leite, não obriga a que se conclua que a mesma está a amamentar...
Também não pode ser justificação a ideia generalizada e muito mal fundamentada, pois parte apenas de vox populi e não de factos concretos, de que muitos dos atestados que as mães apresentam são falsos. A lei determina que sejam apresentados atestados médicos mensais comprovando que a mulher continua a amamentar a criança para além do ano de idade. Se esses documentos são falsos, que se culpem os prevaricadores. Mas não se promova uma caça às bruxas gratuita e humilhante. Existem outros meios de fiscalização menos medievais, como por exemplo através de análises clínicas.
Entristece-me o facto de perceber que a maioria dos homens não consegue entender que as mulheres se sentem violadas na sua intimidade perante um procedimento deste género. Julgam que tudo é justificável para achar uma vigarista. Que no fundo as mulheres querem é estar no bem-bom, com o horário reduzido em duas míseras horas durante mais um tempinho; e para evitar esses abusos, tudo é justificável! Normalmente esses são também os homens que não se lembram de ajudar nas tarefas domésticas, o que implica que as mulheres trabalhem muito mais em casa do que as duas horas em que vêem o seu horário encolhido. Perante tal disposição, a mim só me resta “despir a camisola” do machismo moderno, afirmando a minha solidariedade para com estas mulheres.
Todo o ser humano deve condenar qualquer forma de perseguição individual e o país de Abril, que agora completa 41 anos de liberdade, já deveria ter aprendido essa lição.
Montijo, 23 de Abril de 2015
Miguel Dias
Ser Humano

 

14-06-2015 00:15

 

Frequentemente lá me perguntam o que é que consideraria um bom resultado para a candidatura cidadã LIVRE / TEMPO DE AVANÇAR no círculo eleitoral de Setúbal. Respondo o óbvio... Um bom resultado seria ganhar. Depois pedem-me para ser realista. Aí replico que a realidade é o que se tem passado por essa Europa fora, com novos partidos e novas lógicas organizativas, que têm conquistado votos e até ganho eleições. No nosso cantinho é que ainda vivemos na ilusão. E ao que parece não queremos acordar.
Recentemente, mais um choque de realidade nos tentou despertar. A taxa de desemprego voltou a subir para cima da barreira dos 14% no mês de Fevereiro. Descobrimos ainda que afinal a taxa adiantada pelo INE relativa ao mês de Janeiro era erradamente optimista e não por um ou duas décimas, mas por 0,5%. Para os mais incautos relembre-se que se estivermos a falar de uma população activa de, grosso modo, 5 milhões de indivíduos, esses 0,5% correspondem a 25.000 pessoas. Para além disso também se descobriu que o desemprego não diminuí de Dezembro de 2014 para Janeiro de 2015, ao contrário do que foi anunciado na altura. E isto, ao invés de nos acordar, embala-nos ainda mais nesta dormência ilusória.
O desemprego jovem, por seu turno, não tem conhecido intermitências fixando-se em Fevereiro de 2015 nos 35%. Tem sido sempre a subir! O que não deixa de ser estranho, já que grande parte da nova emigração é precisamente constituída por jovens em idade activa. Esta é mais uma faceta de realidade que enfrentamos no “mercado laboral”.
Acrescem as recentes alterações de legislação que desvirtuam a contratação colectiva e aumentam a insegurança no trabalho e a precariedade. A isto chamam “flexibilidade laboral” e dizem que é bom para a nossa economia... Tal como a obsessão na descida dos custos unitários do trabalho, que fez com que as remunerações de muitos trabalhadores recuassem a valores da década transacta. Voltamos à máxima Montenegrina “a vida das pessoas não estar melhor, mas o país está muito melhor”.
Existe ainda uma enorme fatia de desempregados de longa duração e uma cada vez maior franja de pessoas que, pura e simplesmente, desistiu de procurar trabalho. Cedeu à desesperança... E essas, já nem contam para os números do desemprego. Escusado será dizer que toda esta tumultuosa relação que o Governo tem com o emprego, a quebra da contratação colectiva, o aumento da insegurança e da precariedade, a desvalorização salarial, são factores que pesam muito na estrutura da segurança social, já de si fragilizada e sempre posta à prova em alturas de crise. Este é um dos lados perversos da “flexibilidade laboral”.
Em suma, fica aqui patente uma das parcelas da nossa realidade, do nosso quotidiano. Um dos exemplos que esta austeridade nada tem de rigor, mas transborda terror social. No entanto, há uma resistência enorme em percepcionar a realidade pela maior parte de nós. Talvez tal posição se deva ao receio que temos de que ao renegar a ilusão a que estamos subjugados, a realidade nos possa apanhar. E como diz o escritor Mário de Carvalho – “a realidade é muito absurda”. Mas continuar a viver num estado de dormência, apenas desejando com todas as forças que a realidade não nos desperte, qualquer dia pode já não ser suficiente. E aí, talvez tudo se torne ainda mais absurdo...
 
Montijo, 2 de Abril de 2015
Miguel Dias
 

 

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